O nome para este blog surgiu de uma reportagem recentemente vista na televisão portuguesa e do título de um artigo publicado na imprensa. O Mundo na Escola significa a multiculturalidade e a miscelânea de culturas e alunos de origens diversas que ocupam lugar hoje nas escolas portuguesas. Está é também a realidade da nossa escola.
Passo a citar o referido artigo, que poderia muito bem ser sobre os nossos alunos:
Armando, Ismael, Andrei e Eshea ou o mundo numa escola de Almancil Paula Martinheira
Andrei sente a falta da neve que, nesta altura do ano, caía no seu país, a Roménia. Tem saudades das brincadeiras com os amigos, dos bonecos de neve que fazia numa espécie de concurso para apurar qual o maior e o mais original, de esquiar nas montanhas, do frio gelado a bater-lhe na cara. Mas à nostalgia de um passado recente, depressa se sobrepõe um enorme sorriso próprio de quem é feliz. Mesmo tendo o pai desempregado, e cabendo à mãe, que "anda nas limpezas", a tarefa de sustentar a casa. "Sou feliz, porque gosto de viver no Algarve e, sobretudo, da minha escola, dos meus colegas", justifica, determinado, ao DN, num português escorreito.Andrei, de 13 anos, é um dos alunos estrangeiros que frequenta a Escola E.B. 2,3 Dr. António Agostinho, em Almancil, que entre os seus 564 alunos, conta com jovens de 21 nacionalidades. "O estabelecimento podia também denominar-se Escola Internacional de Almancil", sustenta a vice-presidente do conselho executivo, Carla Ribas, convicta que detém um recorde nacional. Com efeito, distribuídos por 25 turmas, frequentam a escola daquela freguesia do concelho de Loulé, rapazes e raparigas de países tão diversos como Austrália, Gana, Itália, Roménia, Canadá, Venezuela, África do Sul ou Reino Unido.É uma escola multicolor, que reflecte a realidade de Almancil, uma das mais peculiares freguesias do Algarve, onde se cruzam portugueses que migraram de todos os pontos do país; emigrantes que há algumas décadas atrás partiram para a Venezuela ou França e que regressaram à sua terra natal, já com os seus descendentes; gentes oriundas dos países africanos de língua oficial portuguesa; turistas que começaram por passar férias nos luxuosos empreendimentos turísticos da zona, como Quinta do Lago ou Vale do Lobo, e que acabaram por comprar casa, optando por residir em Portugal; e sobretudo imigrantes, muitos imigrantes que encontraram na intensa actividade de construção civil, a sustentabilidade económica que os seus países de origem não lhes proporcionavam."Excepcional acolhimento""Em Almancil, gente de todo o mundo espera por si." O slogan orgulhosamente utilizado por João Martins, presidente da autarquia local, para caracterizar a sua freguesia e o "excepcional acolhimento" que os almancilenses prestam aos estrangeiros, bem pode aplicar-se à E.B 2,3 Dr. António S. Agostinho. Que o digam Armando, que abandonou Cabo Verde há três anos, Ismael, filho de pais guineenses, Andrei, da Roménia, e Eshea, filha de pai indiano e mãe britânica, que há oito meses desempenham na perfeição, juntamente com os seus colegas de turma, do 6.º ano, o papel de anfitriões da jovem ucraniana Maria, que chegou pela primeira vez à escola em Setembro, sem saber falar uma palavra de português. "Eu já passei pelo mesmo e, por isso, puxo muito por ela", conta Andrei, que aproveitou o facto de ter estado um ano, depois da sua vinda para Almancil, sem poder ir à escola (os pais não estavam legalizados), para "aprender a língua". "Sozinho, que os meus pais estavam a trabalhar", esclarece.Recomeçar do zeroA fórmula mágica, que agora ensina à Maria, foi "ver muita televisão, ler livros e revistas em português e ouvir atentamente o que os vizinhos diziam". Maria tem estudado bem a lição e hoje já arranha o português. Conta que na escola tem "grande amiga, Carina". "Então e eu?", interrompe Eshea. Corada até às orelhas, Maria reconhece o engano. "Sim, duas grandes amigas". "É comigo que ela se safa", remata a colega, de cor de canela e olhos negros e rasgados, "devido às misturas da família". "Para quem está em Portugal há escassos oito meses, Maria já fala muito bem. Pelo menos, consegue entender o que colegas e professores dizem", explica a vice-presidente do conselho executivo, que delineou para os próximos três anos, um projecto educativo designado "Educar na Interculturalidade". O objectivo da iniciativa, explica Carla Ribas ao DN, passa por "reflectir as várias culturas que existem na escola, gerindo as duas partes". Ou seja, dar conhecer aos alunos estrangeiros a cultura portuguesa, sem deixar que esqueçam a deles". "É essencialmente um trabalho de turma, concretizado principalmente ao nível da disciplina de Área Projecto". Exemplo dessa tarefa são os muitos dicionários que os alunos elaboram, permitindo-lhes descobrir palavras e frases das línguas uns dos outros.Integração com sucessoFace a este cenário, depressa se compreenderá que a E.B. 2,3 de Almancil é uma escola com sucesso a nível da integração dos alunos estrangeiros. "Não tenho dúvidas disso", afirma Carla Ribas, adiantando que a estratégia do estabelecimento é "colocar um aluno estrangeiro numa turma com colegas da mesma nacionalidade e reforçar a aprendizagem da língua portuguesa, com aulas extra-curriculares". A composição das turmas constitui outro truque "Todas elas têm um ou mais estrangeiros". Para a docente, os miúdos "interagem de uma forma saudável, não marginalizam os colegas". Até porque já estão habituados a conviver com várias nacionalidades. "Os jovens almancilenses são filhos do mundo", conclui.